A minha Partida – 05 de dezembro de 2021

Koala Faladora / Mafalda Lemos
O escutismo significa muito para mim. Representou 16 anos da minha vida. Por cada secção que passei colhi muitos ensinamentos que levo comigo.
Não me lembro particularmente da minha entrada nos lobitos. As memórias que tenho são das brincadeiras que fazíamos e das músicas que cantávamos vezes e vezes sem conta. Lembro-me essencialmente de estar sempre feliz e a brincar.
A minha passagem para os exploradores foi sentida como um momento de grande responsabilidade. Foi nesta secção que eu aprendi sobre técnicas escutistas e como ser uma verdadeira escuteira. Foi nos exploradores que eu comecei a perceber que o escutismo é muito mais do que duas horas ao sábado de brincadeira com os meus amigos. Entendi que é um movimento muito grande, bem estruturado e em constante desenvolvimento onde adultos de forma voluntária dão tudo de si para contribuir para o desenvolvimento de bons cidadãos.
A terceira secção foi das secções mais exigentes para mim. Eramos um grupo grande de pioneiros e fazíamos atividades desafiantes e que me levaram a sair da minha zona de conforto. Foi uma altura de grandes descobertas sobre o que era e o que queria ser. Refleti muitas vezes na importância que o escutismo tinha na minha vida e se faria sentido continuar. Depois, quando assisti às primeiras partidas do agrupamento que foram do Zé e da Joana, lembro-me de olhar para o lado, para os meus amigos que me acompanharam desde os lobitos e dizer que um dia íamos estar ali a fazer também a nossa partida. Eu sei que todos eles, apesar de não estarem aqui comigo, estão a fazer coisas incríveis que devem muito ao que aprenderam nos escuteiros. Foi ao assistir à felicidade, não só do Zé e da Joana, mas também dos chefes e de toda a comunidade que decidi continuar e dar ainda mais de mim.
Percecionei a minha passagem para a 4 secção como um presente. Na minha altura, o sonho do pioneiro era ser caminheiro e eu sentia que ia ser muito feliz de lenço vermelho ao pescoço. Ao contrário das outras secções onde trabalhamos muito o espírito de equipa, nos caminheiros descobrimos o que somos e trabalhamos muito o individual. Não posso mentir, amei ser caminheira. Um dia, o chefe Pedro disse-nos que o caminheiro é a nata do agrupamento, ou seja, só os melhores é que chegam a caminheiros.
Queria pedir a todos do agrupamento, desde os lobitos aos pioneiros que ousem ser caminheiros e fazer a partida. Tem de partir de cada um de vocês querer continuar e acreditem que vão ter de fazer muitos sacrifícios, mas ser caminheiro é sem dúvida uma dádiva. Agora, fazendo uma introspeção e revivendo alguns dos momentos, consigo identificar em mim e na vida que levo a influência do escutismo. Escolhi seguir profissionalmente a área da gestão de recursos humanos pelo gosto que desenvolvi em ser guia da minha equipa. O facto de ter de saber como liderar, delegar e gerir personalidades fez de mim querer aprender mais sobre a gestão de Recursos Humanos e desenvolver o conhecimento nesta área.
Quero agradecer ao padre Pedro, à comunidade de Vilar que teve de me comprar muitos calendários e aderiu às nossas atividades de angariação de fundos, à minha linda família que me fez ingressar nos lobitos e me incentivou a continuar no escutismo, a todos e a cada um dos chefes que me viram crescer e que contribuíram para o meu crescimento e aos meus irmãos escutas que nunca irei esquecer.
No primeiro momento em que coloquei o lenço vermelho ao pescoço soube que só o ia querer tirar no final. E acredito que o final chegou, que hoje será a última vez que vou usar este lenço.
O escutismo foi muito para mim e é muito de mim.
Muito obrigada a todos que me ajudaram a percorrer esta caminhada.
Mafalda da Cruz Lemos, Caminheira do 794 Vilar